Depressão

O modo de produção do capital nos faz acompanhar transformações econômicas, sociais e políticas que instauram consequências gravíssimas: aumento do desemprego, aumento da violência urbana, crescimento vertiginoso dos índices de pobreza, avanço da indigência, desigualdades sociais, diminuição dos direitos sociais, o acirramento da competitividade, a exaltação da competência pessoal, etc.

Esse modo de produção, afeta não apenas a produção de mercadorias, mas, sobretudo, a produção de subjetividade na medida em que compromete a experiência subjetiva produzindo sofrimento.

Quando compreendemos individualmente as doenças mentais, inclusive, a depressão, corremos o risco de responsabilizar os indivíduos pelas patologias deixando de fora a sociedade que as produz.

Há múltiplas linhas de opressão produzidas pelo capitalismo: o trabalho assalariado, o desemprego, a impotência de não cumprir com o “mandato” de viver feliz em um mundo que se apresenta a nós como hostil. Ainda que seja imprudente dizer que o capitalismo gera de forma mecânica depressão, podemos dizer que as instituições que o compõem a fortalece ou a potencializa como: o trabalho a escola, a família, a moda, os partidos, a televisão, as redes sociais, etc.

Não é à toa, no exercício da clínica constatamos que os baixos salários, a incerteza da precariedade no emprego, o desejo do rendimento absoluto, a tristeza de quem não é suficiente para o futuro, a má alimentação, os baixos níveis de sindicalização, a falta de seguridade com pensões e aposentadoria, por fim, a incerteza de uma vida digna, potencializa a depressão, sobretudo entre os jovens.

A depressão se apresenta como uma perda do sentido da vida, inibição, sentimentos de vazio, um mal estar generalizado, desinteresse pelo cuidado pessoal, insônia, fatiga, dores de cabeça, transtornos alimentares, diminuição do desejo sexual, dificuldade de raciocínio, ansiedade, sentimentos de culpa, inutilidade e de incontrolável sofrimento.
Esse processo de sofrimento produz consequências nas vidas dos indivíduos como: o abandono do trabalho, o abandono dos estudos, conflitos familiares, ruptura nos relacionamentos amorosos, dependência alcoólica, dependência de drogas, embora a depressão não seja sinônima de suicídio, pode torna-se uma possibilidade em casos graves. O nível depressivo – leve moderado ou grave – dependerá do histórico psíquico de cada sujeito. Contudo, vale ressaltar que os fatores sociais são determinantes no seu desencadeamento e na sua permanência.

Tudo depende de uma ética do cuidado, ou seja, da sensibilidade de acolher pessoas em sofrimento. O trabalho clínico cria possibilidade dos indivíduos compreenderem as razões de seu sofrimento destruindo-as.